Título: Eu sou o Pedro e isto não é uma dedicatória
Não sou o que era. Não serei o que fui. Não sei bem o que sou. Sinto que nunca saberei realmente. Mas, no fundo, sou o Pedro e sempre serei.
Visto-me de tons escuros, fico nervoso quando tenho de falar para uma plateia (mesmo que conte com apenas 3 pessoas) e viverei sempre com a ideia que passei ao lado duma carreira de cantor bem-sucedido – é a minha “what if dimension.” Na verdade, é antagónico este meu sonho “alternativo” tendo em conta o stage fright com que vivo. Um exemplo que representa na perfeição a antagonia de toda a minha personalidade.
Não diria que estou preso a algo que nunca me irá completar. Pelo contrário. Adoro o que faço e odeio o que faço (os famosos 80-20). Adoro o projeto (uppOut e Powerupp) e às vezes assusta-me.
Neste campo profissional, acho que a minha situação conta um pouco a história da nossa visão em relação ao nascer e erguer de uma startup.
Sou uma pessoa claramente mais dedicada à arte de escrever, pensar e (tentar) ter ideias diferenciadoras para clientes. Por isso, mesmo, peco pela superficialidade com que me debruço sobre questões financeiras, orçamentais e legais da empresa. Na verdade, passo os recibos verdes da maneira que me disseram, porque compreender o que por trás daquilo estava era tarefa que incumbia processar mais informação do que alguma vez me apeteceu.
Disperço. Quero com isto dizer que no que toca a questões formais e burocráticas do processo de nascimento de uma startup, pouco sei. Mas sou testemunha e prova viva do esforço, dedicação, luta e capacidade de ultrapassar crises identitárias que são necessárias para a fazer crescer.
Crazy Wednesday – don’t ask, don’t tell
Por vezes penso que vivemos todos uma mentira. Que a ideia de que “São X anos a lutar que nem um maluco até termos estabilidade” não passa apenas de uma utopia. Que essa calma e estabilidade que ambicionamos e acredito merecermos nunca chegará realmente.
E acho que essa condição define a vida de uma startup. Esse “inferno” que vamos tentando embelezar com os devaneios, bons momentos, risos, noitadas e fechos de negócio entre uma equipa que é mais do que um grupo de meros colegas.
Eu sou o Pedro e estou cá desde o início. Inexperiente, maçarico e imaturo. Nunca tive a capacidade do meu primo e mentor Ricardo para levar uma empresa às costas. Sem ele, nada disto seria possível. Ele sabe e todos sabemos.
O Ricardo telefonou-me no meu dia de anos a dizer-me que estava farto do seu anterior cargo e que queria abrir uma empresa, criar um projeto e escrever uma história. Disse-me que queria que a escrevesse com ele e que começasse com ele. Entre lágrimas e extase que não tinha encontrado antes dentro de mim, disse o “Sim, claro!” mais rápido que o meu telefone alguma vez registou.
uppOut: the beginning
Ainda não sabia deste “inferno” e desequilíbrio constante. Nem ele. Nem os meus amigos mais íntimos (como a Laura, que hoje faz parte da uppOut), que mal me reconheciam. Contava-lhes que passavamos horas no Sr. Carlos – café da frente – a beber Martinis em busca da criatividade que nos ia tirar daquela aparente inultrapassável barreira do primeiro grande cliente. Não era mentira nenhuma. Eu continuava entusiasmadíssimo, mas tudo teve de mudar. E ainda bem.
uppOut no Sr. Carlos, uns meses depois
Hoje é mais fácil dizer que temos uma relação simbiótica de uma dúzia de pessoas e que nada seria possível sem um esforço coletivo – e que esforço. Mas há um pilar inabalável que nos segura a todos nos (mais frequentes do que desejados) momentos de desequilíbrio – e todos sabemos quem é.
Verdade é, também, que todos os escritórios por onde passámos já me viram chorar por namoradas, por lutas e discussões (chorámos todos, como é costume), por falta de confiança e por rasgos de “incompetência” inaceitáveis. Há muito mais para chorar. E dois anos que pareceram oito depois, continuo o mesmo Pedro. Um pouco menos maçarico, um pouco menos inexperiente e ligeiramente mais confiante e independente. Mas ainda não sei bem o que sou. Nunca saberei.
Estou a disperçar outra vez. É tarde. A minha bottom-line é a seguinte: ninguém sabe o que é o “inferno” de uma startup até realmente ter a coragem de o enfrentar. O seu próprio “inferno”, porque cada projeto é um projeto. Mas prometo, será sempre um “inferno.” O nosso trabalho é torná-lo diariamente um pouco mais paradisiaco.
Sou feliz assim, incessantemente procurando o meu maior sonho e objetivo profissional: retribuir a quem tornou possível. A todos os que fizeram parte, mas de forma especial ao Doutor (Mário) e ao Ricardo.
Isto não é uma dedicatória, é a minha realidade. E esta não é uma what if.
Mário e Ricardo
Pedro Bento
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